segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Gazeta em forma de e-meio 107

Reflexões do gazeteiro (VI)

O “sonho americano” é o pesadelo de todos os povos do mundo, inclusive dos que vivem nos Estados Unidos. (Ricardo Arturo Alvarado, escritor e jornalista hondurenho, in Rebelión, 6/11/2009)


1909-2009. Neste intervalo de tempo histórico (centúria) vamos eleger o ano de 1969 como um ponto de inflexão. Por quê? Nos artigos anteriores, quando nos referimos à Primeira e à Segunda Revolução Industrial, estávamos falando da vertente civil de todo um processo histórico no qual tiveram importantes papéis a imprensa e o jornalismo. Mas a informação como uma arma de guerra é tão antiga quanto a Humanidade e, desde Tucídides, há registros de sua manipulação para finalidades bélicas. Contudo, na chamada Era Moderna, desde a Renascença européia até o ano de 1969, é possível verificar-se a nítida separação entre as vertentes civis e militares dos progressos científicos e tecnológicos que nela se concretizaram.

A própria gráfica de Fust e Gutemberg nasceu em 1452 com fins pacíficos, e não bélicos (é preciso nunca esquecer o importante papel de Fust; ao que parece, o sufixo que leva o nome de seu parceiro impressiona mais a certos historiadores). Também o fundador da aeronáutica do século XX, Santos-Dumont, reivindicou os propósitos pacíficos de seu empenho e repudiava o uso bélico de seus inventos.

A queda de braço entre o jornalismo e o grande capital nos idos de 1908-1909, que na penúltima Gazeta comentamos, pode ser considerada como o início de um processo que culminou em 1969. Este curto espaço de tempo histórico, de apenas 60 anos, se tornou o epílogo do poder civil sobre a imprensa e o jornalismo e, ao seu término, se registra a definitiva incorporação de ambos ao arsenal militar do capitalismo liderado pelos EUA – o “sonho americano” –, que ali entrou em sua fase mais arrogante ao estabelecer como inimigos todos os povos que resistiam ao seu domínio ou lhe recusavam obediência, isto é, neste atual e exato momento, todos os povos do mundo, inclusive os dos EUA.

Muitos são os fatos históricos que marcam aquele ano como ponto de inflexão desta nossa atual e cruel realidade. O mais notório deles, e que se inclui perfeitamente no espírito das reflexões da Gazeta, é a célebre “viagem do homem à Lua”, no ano de 1969, seguida de algumas outras até o ano de 1972.

Por diversas razões estritamente lógicas, o homem nunca foi à Lua e a maior delas não estaria no fato de a NASA ter “perdido” todos os documentos que comprovariam tais viagens. Nenhum homem nunca viajou até a Lua pela razão simples e elementar de não possuir a Humanidade meios (tecnologia) para fazê-lo, nem mesmo atualmente; muito menos há quarenta anos. Há muito que evoluir em nanotecnologia, telemetria laser, computação, robótica, automação, eficiência de combustíveis, infra-estruturas espaciais nas órbitas da Terra e da Lua, entre muitas outras tecnologias, para que este “sonho” se torne realidade. Considerando ainda a relação entre o enorme investimento exigido para a viagem e a posição dela na lista das prioridades humanas, podemos dizer que muito tempo vai se passar antes que se realize, se é que se realizará mesmo.

A URSS, que na época detinha a mais avançada tecnologia espacial (e ainda mantém, na Rússia, a liderança da chamada “corrida espacial”), enviou, naqueles mesmos anos, uns pequenos robots ao nosso satélite, alguns deles que foram capazes de enviar para a Terra minúsculas cápsulas com amostras do solo lunar. E isto era tudo o que podia fazer a Humanidade para explorar a Lua, mesmo assim com muitas perdas e desperdícios de tempo e de recursos de toda ordem, sem contar os notáveis fracassos e erros verificados, todos inadimissíveis para o caso de envolvimento de seres humanos nessas aventuras.

A China, que atualmente produz importantes avanços em tecnologia espacial, extrapola para o ano de 2030 a eventual conquista de viabilidade tecnológica para que se realize uma primeira viagem tripulada ao nosso satélite natural.

A própria NASA, que até agora tem colhido mais sucessos de propaganda do que de realizações efetivas, e que, além de colecionar contundentes fracassos e tragédias, há quarenta anos afirmou ter viabilizado as tais “viagens” em menos de um ano, acaba de anunciar um ambiciosíssimo “programa” para “retornar” com seus homens à Lua... para “depois de 2020”!

Assim também, como já vimos, nenhuma aeronave mais pesada que o ar voou antes de 1908, pela simples e elementar razão de que foi neste ano que a primeira aeronave do mundo o teria feito. A diferença é que a sociedade civil de então era bem informada por uma imprensa e um jornalismo verdadeiros e não engoliu a tentativa de engodo; e a de 1969 já não possuía mais imprensa nem jornalismo e, desde ali, somos obrigados a engolir todos eles (os engodos e suas “criações”), os do passado e os do presente: os irmãos Wright, o “holocausto”, a viagem à Lua, a demolição de três megaedifícios pelo choque de aeronaves de passageiros em dois deles e o “inquérito oficial” do governo dos EUA sobre este evento, que relata e leva em conta até conversas por telefones celulares de passageiros daqueles aviões com seus familiares em terra. Tais conversas nunca ocorreram, pela simples e elementar razão de que em 11 de setembro de 2001 não havia nos EUA tecnologia que as permitissem, e isto não é a Gazeta que está dizendo, é o FBI que o afirmou em seu próprio site na internet.

Nos últimos 40 anos este gazeteiro, que teve boa parte de sua formação de gráfico por entre as ramas, os componedores, os prelos e os cavaletes de tipos móveis da oficina tipográfica Eletrogravura, em BH, sob a orientação de mestre Ildeu, tipógrafo classe A, viu evaporarem-se, em poucos anos, mais de cinco séculos de evolução daquela arte e daquela técnica, ambas até então consideradas como ícones de elevação do saber e da condição humana, em seus aspectos mais nobres, civis e civilizados. Em pouco mais de uma só década, os cerca de noventa profissionais que ali trabalhavam na faina ininterrupta de compor manualmente a maioria dos textos que eram publicados nas gráficas da cidade, muitos deles por toda a vida e até por tradição familiar de várias gerações, se viram sem ter nada mais que fazer depois da completa obsolescência de seus ofícios, mistéres e mistérios. Em 1986, este mesmo gazeteiro protagonizou o evento que pode ter significado em nosso país o golpe de misericórdia na tipografia tradicional: a edição do primeiro livro feito no Brasil inteiramente por computador, na oficina Lastri, de São Paulo, para a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

Ah, sim, os computadores... eis que, para a estratégia militar eles são uma verdadeira obsessão; nunca antes se havia produzido uma ferramenta tão eficaz para exercer controles, todos os controles, inclusive os da opinião pública. O computador gráfico das oficinas Lastri, em 1986, ocupava uma área de quase 100 metros quadrados e custava uma verdadeira fortuna. Somente as grandes empresas e corporações multinacionais, além das Forças Armadas e os órgãos de governo, podiam possuir tal equipamento.

E a imprensa alternativa, que se tornara o refúgio dos verdadeiros jornalistas na década de 1970 graças ao artesanato gráfico-tipográfico das pequenas oficinas, desapareceu completamente, junto com elas. Os senhores da guerra se tornaram então os senhores absolutos de tudo o que se publicava por qualquer via comunicacional, uma vez que também os meios eletrônicos de rádio e televisão se vincularam a tais máquinas, que eram inalcançáveis às tarefas comunicacionais de resistência.

Mas, como no passado já se verificara, e o anotamos numa dessas Gazetas anteriores, eis que chega a História e prega uma nova peça à ambição desmedida dos poderosos senhores da guerra, seus banqueiros e seus capitães-de-indústria.

É o que veremos na próxima edição da Gazeta.