quinta-feira, 7 de março de 2013

Gazeta em forma de e-meio 120


"Yo soy Chávez"


"Você, criança, é Chávez! Você, estudante, é Chávez! Você, camponês, operário, soldado, trabalhador, aposentado, mulher e homem revolucionário e patriota, é Chávez! Chávez não sou eu; todos somos Chávez; porque Chávez é o povo!" (Hugo Chávez, durante a vitoriosa campanha para a eleição presidencial de 7 de outubro de 2012 na Venezuela)

Quando soou em meus ouvidos a notícia da morte de Chávez, a sensação foi a de que o mundo murchava como uma bola cheia que acaba de ser brutalmente perfurada.

De fato, o mundo ficou menor sem Chávez. Porém, graças a seu legado de estadista e orador, com mais conteúdo humano. Em especial no que mais falta fazia a este mal tratado planeta e a seus infelizes habitantes: a chama política revolucionária - revolucionária mesmo! - que, ao final do passado século, por pouco (por Chávez) não se extinguiu.

Acompanhando pela TeleSur o cortejo fúnebre em Caracas pude testemunhar o esplendor dessa chama nos depoimentos do povo venezuelano. Diante das câmaras, os homens e as mulheres do povo da Venezuela, em particular e com melhor fluência os de extratos sociais de menor renda, não titubeiam nem se acanham. O discurso revolucionário está na ponta da língua. E em um gráu superior de comunicação verbal.

Nas seis horas de cortejo, a TeleSur colheu pelo menos uma centena de depoimentos de populares, tomados ao acaso de quem passava por perto da equipe de reportagem. Foi um programa e tanto, apesar da longa duração. Sinceramente, eu gostaria de revê-lo todo, pois o imperativo do trabalho várias vezes me obrigou a deixá-lo. Devo ter perdido muita coisa boa, pela amostra do que pude ver. Penso que uma boa montagem geraria uma antologia audiovisual tão preciosa quanto saborosa e atraente. "Todos somos Chávez!"

Muitas vezes embargada pela dor da perda ou  pela emoção do momento, mas sempre com o timbre de uma consciência sinceramente refletida, a hoje revolucionária voz do povo venezuelano tornou-se capaz de compor análises, críticas, dissertações, cantos de amor, poemas e outras peças de oratória, com elevadíssima média de qualidade comunicacional (e até literária), algumas das quais alcançando mesmo, e sem exagero, o virtuosismo.

Termos considerados eruditos e tidos como de complexa ou difícil verbalização em discursos de improviso, mais ainda quando saindo da boca do povo, tais como, "parafraseando a Pablo Neruda", "construindo o homem novo", "oligarcas apátridas", "plutocracia entreguista", "proibido olvidar", "célula revolucionária", "participação protagônica", "construção do socialismo", "emancipação do poder popular" entre outros do tipo, são pronunciados com uma surpreendente fluência, propriedade e domínio conceitual, sem nenhuma afetação cartilhesca ou cacoete de decoreba.

A maior riqueza audiovisual do documentário que aqui mentalmente realizo estaria na força dessa incrível oratória amparada nas imagens com ela sincronizadas de donas-de-casa, operários, empregadas domésticas, lavradores, balconistas, taxistas, deficientes físicos, secundaristas, malabaristas, artesãos e até atletas e artistas, na grande maioria pessoas de origens humildes, de todas as etnias e miscigenações, numa ampla variação etária (calculei a "faixa" entre os 15 e os 90 anos).

Num determinado momento, peguei um breve contraponto da TeleSur tomando depoimentos numa manifestação pró-Chávez em Madrid. Pobre Europa! Seus "cultos" filhos já mal sabem balbuciar umas poucas e desconexas frases diante das câmeras. Foi de dar pena. Falta ao povo europeu o espaço cultural e midiático que Chávez conquistou para os "sudacas" venezuelanos. Daí o despreparo e o pouco convívio com o léxico daqueles pobres nordacas (o que não quer dizer que são nordacas pobres, apesar de em crise).

Vi certa vez num programa da VTV (estatal venezuelana) o filósofo mexicano Fernando Buen Abad exibindo um gigantesco catálogo de obras e conquistas da Revolução Bolivariana, preparado por um grupo de jornalistas de Caracas. Estou certo de que esta não consta nele. É uma conquista pedagógica, de essência; essência revolucionária, humanista e marxista por excelência. Quando perguntaram a Marx sobre "liberdade de imprensa", ele respondeu que não lhe interessava a "liberdade de imprensa" mas, sim, "a imprensa da liberdade". Pois aí está ela, nas telas da TeleSur. E assim deve ser incluída no catálogo das conquistas de Chávez: a imprensa da liberdade.

Contudo, gigantesca mesmo é a glória de Chávez. Perto dele, os "estadistas" neoliberais que assolam as Américas e a Europa não são mais que um balaio de ratazanas imundas e peçonhentas que mal chegam aos seus calcanhares. O que lhes bastou para, enfim, inocularem essa peçonha altamente infecciosa, produzida com tecnologia "de ponta" ou "de última geração", num dos calcanhares do nosso Aquiles sulamericano.

Eis porque a transmissão da TeleSur não me salvou do pessimismo.

Permanecem em mim graves razões para pensar que é a estupidez que prospera na humanidade, que a imundície se sobrepõe à pureza. É a ação do diabo na natureza humana, a que nos faz recordar a indignação de Unamuno ao ver as falanges facistas de Franco invadirem o seu "templo do saber", a sua amada Universidade de Salamanca:

"Vocês vencerão; vencerão porque lhes sobra a força bruta. Mas não convencerão, porque para convencer é preciso persuadir. E para persuardir necessita-se o que lhes falta: a razão e o direito de lutar."

Vai, Osama! Vai, Merdel! Vai, Montim! Vai, Rajoya! Vai, Hollanda! Vai, Camelon! Vai, Azner(a)! Vai, Uribi! Vai, Vagas Llosa! (assim mesmo, sem revisão) Vão vocês todos, de preferência, à puta que os pariu! O mundo é todo seus e de seus drones. Já dizia o meu falecido amigo Rogério Sganzerla: "o mundo é dos boçais!"

Quanto à mim, mesmo pessimista, eu sou Chávez!

domingo, 24 de julho de 2011

Gazeta em forma de e-meio 119

O caçador de marxistas




O super-herói da foto foi preso em flagrante, sem resistência, realizando uma matança de jovens que faziam uma espécie de pic-nic numa ilha perto de Oslo. Tratado pela mídia hegemônica como “norueguês”, “atirador de Oslo”, “autor do atentado”, “suspeito”, entre outros títulos cordiais, mas nunca como terrorista (um lourão tão bem vestido de mocinho-de-filme-de-ação não faz o “perfil”, não é, “rapazes da imprensa”?), antes de ser preso ele havia explodido uma rua inteira no centro da cidade com vários carros bomba e assassinado ao menos 92 pessoas indefesas a sangue-frio, a maioria jovens entre 14 e 25 anos de idade.


Registre-se que, tão logo rolou a notícia das explosões, as agências de “notícias” apressadas (CNN, inclusível) atribuiram-nas a um grupo terrorista islâmico que “já havia assumido a responsabilidade pelo atentado”. Aí estaria o “perfil”: os barbudos morenos de Maomé.


O visionário Jean-Luc Godard tem toda razão quando disse numa entrevista recente que “agora todo mundo é autor” e que “até mesmo os noruegueses podem fazer filmes tão ruins quanto os americanos” (ver Kynoma - http://kynoma.blogspot.com/2011/07/godard.html).


Sem dúvida, o “autor do atentado” é também, além de norueguês, autor de um tecnicamente bem cuidado audiovisual e um “profundo” livro-manifesto que a ambos tratou de publicar na internet pouco antes de sair para a heróica cruzada. Sim, leitor, o cara se julga um cruzado do século 21 e se respalda num denso manual ideológico de fazer inveja ao Pentágono e à OTAN. São mais de 1.500 páginas de word onde o maníaco se justifica e se autonomeia “caçador autorizado de marxistas e de traidores multiculturais” à partir da “elementar” constatação de que a Europa encontra-se totalmente à mercê dos marxistas e do “comunismo internacional”, e do “islamismo fundamentalista” e seus “terroristas”.


Numa rápida leitura (bem) dinâmica do imenso documento, lê-se coisas do arco-da-velha. Por exemplo: todos os europeus natos que não pensam como ele são classificados de “traidores multiculturais” (dos “tipos A, B e C”), os quais devem ser eliminados por várias táticas de matança tramadas e descritas em detalhes pelo “autor”. A predileta parece ser a de buscar “alvos desprotegidos”, tais como reuniões de partidos, congressos científicos, festivais de estudantes, eventos culturais, etc, para se obter mais eficiência na “limpeza”, ao invés de perder tempo e correr riscos contra alvos bem protegidos. Em seu “raciocínio”, autoclassificado de “lógico” e “pragmático”, ele “deduz” que estudantes (todos, “futuros comunistas”), além de indefesos, são alvos mais prioritários do que um chefe de estado, p. ex., pois as cagadas deste estão feitas e as dos daqueles, por fazer. Logo!... se estará “limpando” o futuro, já que o passado sujo não tem mais jeito. E por aí vai...


Voltando a Godard, o que se constata dessa mais recente produção norueguesa é que, insistimos, ele tem toda razão. Vivemos a época da boçalidade tecnicamente bem equipada para produzir “idéias”. A inteligência e o talento não são mais exigidos uma vez que os recursos estão disponíveis a qualquer um e ambos, inteligência e talento, podem ser obtidos (comprados) “artificialmente”, até por quem não os possui, através das diversas “ferramentas disponiblizadas” (sic) seja na “web”, seja no “mercado”.


Sem saudosismos, o que este gazeteiro quer dizer é que há menos de quatro décadas uma “produção” dessas era absolutamente inviável e o autor teria de curtir suas “criações” num manicômio assim que começasse a rascunhar os primeiros manuscritos.


Era uma época em que até para ser presidente dos Estados Unidos o sujeito precisava ao menos parecer inteligente e demonstrar algum talento para a política. Nem se diga então o quanto de talento e inteligência eram necessários para escrever um livro de 1.500 páginas ou realizar um filme, mesmo um de curta-metragem. E sem o filme e o livro para se exibir ao mundo esse norueguês não iria sair matando as pessoas. Tal como os caras da OTAN e do Pentágono, ele é um boçal alucinado mas não um idiota.


A Humanidade precisa se cuidar melhor e é bom ter mais cuidado com a internet, pois, como diz o meu amigo Valdemar Gravura, ela pode ser “uma faca de dois legumes”.


E, mais uma vez, leitor, haja aspas para estes tempos ásperos.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Gazeta em forma de e-meio 118

Este mundo é um hospício
(sem aspas, pois o filme do Capra fica “no chinelo”)

Passei dois dias e duas noites num hotel de cidade do interior e, no tempo vago, não tinha outra saída senão ligar a TV: lixo, lixo e mais lixo. A GloboNews estava 24 horas no ar com a façanha Obama x Osama; de manhã, de tarde, de noite e de madrugada, nas vezes que passei por seu canal. Numa delas, decidi ouvir o que falavam quatro senhores reunidos numa sala cenográfica. Um deles, o que falava mais, reconheci como um “jornalista” de variedades que às vezes é visto cobrindo um bueiro que vazou e outras entrevistando gente na rua. O rapaz era o mais empolgado com a façanha de seu amigo Obama. Falava como se acabasse de sair de uma reunião com “o Obama”, “a Hillary” e “o Gates”, e era assim que os tratava, como se os frequentasse na intimidade. Os outros também se assanhavam e quando conseguiam abrir a boca era para acrescentarem algo e mostrarem-se igualmente “bem informados”. “O Obama decidiu acabar com os inimigos da América” – dizia o empolgadão, entre anuências e apartes dos demais – “e decidiu que agora não tem mais protelações diplomáticas, conversa mole ou firulas demagógicas. O Kadafi, o Fidel, o Chavez, o Ahmadinejhad e outros ditadores menores já estão na mira”.

Na década de 70, se aqueles quatro fossem pilhados num delírio desses seriam imediatamente encaminhados ao hospital psiquiátrico mais próximo.

“Comunidade Internacional” é um termo sem significado objetivo que designa coisa inexistente, isto é, uma ficção (de má qualidade). Uma pesquisa exata do termo (entre aspas) que acabo de fazer no Google encontrou-o em 2.210.000 páginas web em língua portuguesa. Em espanhol, “comunidad internacional”, 4.240.000; em inglês, “international community”, 16.300.000 (o Google agora deu para “arredondar” a quantidade de seus “achados”). A globalização é uma ficção de má qualidade. Cuidado, leitor, ela pode levá-lo ao reino da fantasia onde, ao menos virtualmente, deve habitar a tal “comunidade internacional” devidamente disneyficada, macdonaldizada, plastificada e radioativa.

A palavra “terrorista” designa pessoa, conjunto de pessoas, entidade ou até coisa que revele patriotismo, que promova a soberania de sua nação, a autodeterminação de seu povo e atue ou lute para defendê-las. O sinal da TeleSur, por exemplo, é considerado pelo Congresso dos EUA como um “sinal terrorista”.

O “Ocidente” (outra palavra que tem sido usada, para além de sua significação geográfica, como um termo sem significado objetivo e que designa coisa inexistente) ficou barbarizado com a escândalosa notícia de uma mulher iraniana que teria sido condenada à “morte por apedrejamento” por ter cometido adultério. Todas as matérias mostravam a mesma foto de uma mulher vestida de negro em que só lhe aparecia o rosto, mas isto era o bastante para que todos vissem que se tratava de uma mulher lindíssima.

“Progressistas” de todos os matizes e níveis intelectuais, de classe, de poder político (até presidentes de repúblicas), inclusive notórios racistas e ao menos três dos sete sábios do Sion de “última geração” (Sarkozy, Aznar e Blair), esbravejaram aos quatro cantos contra a barbaridade em prolixas análises daquela atrasada sociedade muçulmana. Porém, só um jornalista, o francês Thierry Meyssan (RedVoltaire), decidiu investigar o caso e demonstrou que era tudo mentira (ver http://www.voltairenet.org/article167005.html, em espanhol). Uma completa mentira. Depois, internautas descobriram que a foto era a de uma modelo inglesa, e que tinha sido feita para um anúncio de cosméticos.

Um nota de conhecimento geral: a pena de apedrejamento por “crime de adultério” fora instituída por Moisés, Rei dos Judeus, e teria sido revogada por Jesus Cristo com o célebre desafio a quem atirasse a primeira pedra. Há mais de dois mil anos!

Todos os dias, em algum lugar das manchetes principais e de algum lugar da União Européia ou dos EUA, um sempre diferente senhor, sempre muito bem vestido e sendo apresentado como “autoridade” civil ou militar da “comunidade internacional”, fala a jornalistas muito bem vestidos e bem comportados para declarar sua “preocupação” com a população civil da Líbia e a necessidade de bombardeá-la para protegê-la da sanha assassina do “ditador” que a governa. O discurso é sempre breve e exatamente o mesmo, todos os dias! Os jornalistas manifestam aquiescência em unânimes e bovinos movimentos de cabeça. O “republicano público”, idem. Todos os dias, há mais de dois meses!

Na TeleSur, Walter Martinez desmascara esse autismo midiático com seu estilo crítico sutil e cada dia mais implacável.

O herói do governo dos trabalhadores no Brasil faleceu há pouco. Era um empresário que lutou contra o câncer que o matou, tal como fazem quase todos os que sofrem da terrível moléstia, só que, no caso dele, com (muito) mais grana. Um jornal daqui de Minas deu a seguinte manchete: “Um grande lutador, mas sem perder a ternura”. Quer dizer, Che Guevara que se cuide. Mas a “ternura” do empresário não fora bastante para que ele aceitasse se submeter a um exame de DNA por petição de uma moça que alega ser sua filha e que só quer ser reconhecida pelo pai. No prontuário da “ternura” do nosso herói consta também a orientação de sua empresa em só contratar mulheres que comprovassem ligação de trompas. Nos anos 80, o excesso de operações desse tipo na cidade onde ficava a fábrica chamou a atenção das autoridades e processos foram movidos... e, depois, sumiram.

Aliás, a fábrica fora subsidiada pelo governo da ditadura militar para produzir tecidos para a população brasileira e não podia ser vendida a estrangeiros. Mas o esperto empresário vendeu a fábrica sem vendê-la ao vender toda a produção dela por vinte anos futuros para os chineses, os quais trataram de tirá-la do mercado nacional para abri-lo aos tecidos made in China. Depois desse negócio da China, o espertalhão lutador comprou uma cadeira no Senado e viveu feliz para sempre... ou ao menos até que o câncer foi diagnosticado.

Para provar que foi o Osama mesmo que morreu, os caras o jogaram no fundo do mar e não deixaram ninguém fotografar o falecido. Mas disseram que verificaram o DNA do monstro e que foi o corpo dele, com certeza garantida pelos tripulantes de um porta-aviões, que mandaram para as prefundas oceânicas. Esses tripulantes não podem dar entrevistas mas deviam ter conhecido o Osama desde criancinhas pois juraram com uma das mãos sobre a Bíblia e a outra sobre o Corão que era o corpo do próprio que puseram no saco preto. Além do mais, rezaram em coro na ocasião do funeral marítimo em honra do falecido e dos que o assassinaram. Quem não quiser acreditar, que resgate o corpo para conferir. Quem sabe a turma que resgatou as caixas pretas do Airbus topa a parada?

E a feminista Dilma Roussef chorou no caixão do nosso herói, beijando para as fotos o seu heróico rosto, ao mesmo tempo que impunha uma significativa e “feminista” distância diplomática e política da República Islâmica do Irã por causa da “futura apedrejada”.

Haja aspas para estes tempos ásperos, leitor.

Numa edição de jornal televisivo, o âncora “informou” que a descoberta do esconderijo de Bin Laden só foi possível graças aos “novos métodos de interrogatório” praticados na prisão de Guantânamo. E exclamou, inusitadamente, olhando com desafiadora firmeza para os “da poltrona” como se estivesse abrindo e grifando um parênteses “(ou TORTURA, se VOCÊS quiserem!)”. Não queremos não, seu âncora; VOCÊ (e seus patrões) é que quer(em). Na pele dos outros, claro, especialmente de muçulmanos e cucarachas.

No Brasil governado pelos trabalhadores, a reforma agrária foi substituída pelo agronegócio como política de governo, a qual atende pelos nomes Monsanto e Eike Batista.

“Direitos Humanos” tornou-se um termo sem significado objetivo que designa etc... e a palavra “democracia”, entre esses termos, já é puta velha.

O discurso do Obama dando a notícia da morte do Osama foi doidão, foi ou não foi? Bããã... Será a influência do amigo dele da GloboNews, o que mencionei lá em cima?

Nas vizinhanças da Usina Nuclear de Fukushima, antes do tsunami, ia de vento em popa uma campanha anti-tabagista com base no slogan: “Não fume nas ruas, deixe a saúde passar”. Um dos patrocinadores era a empresa dona da Usina. Em parte, foi bem sucedida: não há mais fumantes nas ruas; aliás, não há mais ninguém. Pois o que passou e ainda passa por lá é outra coisa... que não fuma e morava lá há muito tempo sem sair de casa.

Isto pode dar uma série. O leitor pode colaborar.


Post Scriptium: o que está escrito acima “é tudo verdade”, como dizia o Rogério.

domingo, 27 de março de 2011

Gazeta em forma de e-meio 117

É difícil, Rogério!

Desculpe-me, companheiro, mas não resisti ao trocadilho. Veio-me imediatamente à memoria aquele dia em que caminhávamos por uma das ruas de Ipanema, não sei se a Barão ou a Nascimento, quando demos com um certo edifício que exibe um nome pomposo numa fachada medíocre: "Edifício Marcel Proust". E você, na mesma hora, saiu com uma das suas: "Ah, então era esse o ‘tempo perdido’?!"

Era muito engraçada a maneira com que você soltava (ou exclamava) seus chistes, quase sempre em interrogações. Não nos restava senão dar boas gargalhadas entre as muitas que demos pelas ruas e becos da amargura naqueles cinco anos da primeira e infeliz metade da década de 90, em que nossos destinos se cruzaram no Rio de Janeiro. Ambos penávamos um injusto ostracismo e uma imerecida maldição por conta de nossas rebeldias irmãs e revolucionárias que, desde os anos 60/70, vimos cometendo em nome da resistência cultural. Pelo menos, aquele não foi um tempo perdido para nós.

O que você não podia imaginar naquela hora é que ia também virar nome de edifício, Rogério. Sim, o nome do seu livro agora publicado - e este é o motivo desta segunda carta - foi intitulado Edifício Rogério. Não se esclarece o que motivou esse nome, digamos, exótico (para não dizer esdrúxulo - você o vetaria, claro), mas na capa do estojo de papel-cartão (o livro são dois livros dentro dele) imprimiram uma foto de você todo sorridente na comemoração dos seus sete anos de idade, diante de um bolo de aniversário em forma de edifício onde vão os dizeres: "Edifício Rogério". Não há, também, explicação do que isso tem a ver com o conteúdo. No primeiro livro são publicados 29 de suas colunas no Estadão e, no segundo, 28 delas na Folha de São Paulo.

Não posso dizer que o conheci bem naqueles anos de convivência, mas o pouco que conheci basta para que eu diga que você NÃO era um intelectual do tipo "meus oito anos" ou "minha terra tem palmeiras". Sua obra, sim, posso dizer que a conheço bem, tanto a cinematográfica quanto a literária, e nela nunca encontrei uma só referência saudosa de sua "infância querida" ou de sua terra natal. E em sua residência, pelo menos enquanto a frequentei, Joaçaba sequer tinha o status de "uma fotografia na parede".

Não estou dizendo que você abjurava ou se envergonhava das origens provincianas e pequeno-burguesas em que viveu a infância e a adolescência. Penso que simplesmente as guardava para si, num silêncio tímido. As revelações e insights que o iluminaram em São Paulo abriram para você um universo tão completamente novo e tão afastado daqueles cenários quanto você e sua obra eram distantes de pieguices sentimentais.

Gilberto Vasconcellos costuma dizer que os cineastas brasileiros que se destacaram na década de 60/70 eram quase todos "filhos-de-algo". Uns tinham pai, outros mãe, ou avô, ou tios com nomes e sobrenomes conhecidos, e que volta e meia frequentavam a balbúrdia midiática e festiva em torno deles e de seus filmes. Mas você, não. Os Sganzerla nunca vieram para o baile (e acho que não aceitariam o convite), nem havia entre eles, antes de você, alguma celebridade. Você surge como um cometa no cenário nacional, a partir de São Paulo, sozinho, sem pai e sem mãe, e foi assim até o último de seus dias. “Esse desenraizamento influiu em sua carreira, ou melhor, em sua correria, em sua errância de cineasta”, escreveu Gilberto no prefácio de Tudo é Brasil.

A definição da capa (e das ilustrações, quando se justificam - o que não é o caso desse “edifício”) é um dos trabalhos mais importantes de um editor de livros. Com certeza, os arquivos do Estadão e da Folha conservam fotos de você trabalhando na redação, ou na gráfica, ou na máquina de escrever (em que você era bamba), ou ao lado de conhecidos nomes do jornalismo (como o de Décio de Almeida Prado, seu padrinho de iniciação), que dariam ótimas capas e ilustrações pertinentes ao projeto editorial. Mas seus “editores” utilizam imagens de sua infância e adolescência, inclusive na capa. Para ilustrar o que, afinal? Atribui-las a uma semiótica mal intencionada, no sentido da insinuação de uma (absurda) componente ingênua ou naive em sua obra, seria superestimar a argúcia deles. Se, pelo lado da boa fé, quisessem aludir à sua precocidade, eu digo que se faria necessário um resumo biográfico ou um texto que informasse o leitor a respeito. Mas é que esse pessoal, quando se depara com material muito acima da média intelectual à que frequenta, costuma apelar para o “diferente”, o “inusitado”, o “engraçado-engraçadinho”, e acaba se estrepando em equívocos ou disparates delirantes. Não são editores, nem fazem livros para leitores. Tem acontecido muito: livros feitos por pessoas que não leem para pessoas que não leem. Para ambos, nada tem importância.

Contudo, o mais inusitado é o tratamento exegético da sua obra.

Cara!!! Não é que aconteceu agora justamente o que eu queria evitar quando, em 2004, dei aquele Alô Alô pra você! No início, até que começou a dar certo para nós e o nosso projeto. Depois do Alô Alô, saiu Tudo é Brasil e, na sequência, editores italianos, que fazem livros de pessoas que leem para pessoas que leem, o publicaram na bela língua deles, em impecável trabalho editorial. As três edições bateram bem onde chegaram (o leitor pode conhecê-las em http://marioobras.blogspot.com/2009/03/2004-critica.html).

A jogada era levar seus escritos, que, como seus filmes, são bandeiras da nossa geração, às novas e futuras gerações. Você e sua obra emulados por nomes chegados ao espírito culto e irreverente que caracteriza a sua/nossa inquietação, uma vez que ainda temos alguns – e dos bons! - que permanecem na batalha, empurrando o carro pesado da revolução.

Mas eis que você aparece escoltado (e ocultado, como veremos) por nomes de que eu nunca tinha ouvido falar; certos doutores e outros acadêmicos que devem ser bem conhecidos lá na Universidade de Santa Catarina, a qual chancela (e contamina) a edição junto ao logotipo do Banco Itaú. No que toca às chamadas "Ciências Humanas", as universidades são todas iguais: são entidades embalsamadoras do pensamento e do espírito (apesar de uns poucos resistentes que nelas insistem em permanecer). E no que toca aos bancos, nem é preciso dizer; são clones que se multiplicam com diferentes logotipos. O Itaú acaba de conquistar o título de maior sanguessuga da miséria do nosso povo ao anunciar um lucro pornográfico de R$ 13 bilhões em apenas um ano. Ou seja, a meia dúzia de acionistas daquela "produtiva" instituição abocanhou 1 bi (cerca de cem loterias) por mês, e ainda teve direito a 13º!!!

Você também contribuiu para esse lucro com o seu grão de areia, camarada. A merreca (para eles) gasta a título de "patrocínio" foi 100% abatida do imposto de renda daqueles safados, via Lei de Incentivo. Quer dizer: nós, o povo brasileiro, pagamos a conta. E não economizaram: dois livros na “caixinha”, dois coordenadores, dois prefaciadores, dois orelhistas, etc e tal. Com certeza, com cachês bem pagos, claro, mas quem garante é você! Ao menos no meu caso, as 70 pratas que gastei na compra da "caixinha" foi porque eu sabia quem estava nela, independente do que viesse junto (Helena não fez a gentileza de enviar-me um exemplar, nem a moça do Itaú, a quem, um tempo atrás e a pedido dela, enviei um exemplar de Tudo é Brasil).

Mas ainda não chegamos no pior, que é o embalsamamento (que palavra desgraçada) da sua literatura pelos magníficos doutores professores da UFSC. Os curriculum vitae não foram publicados talvez por serem de notórias autoridades na matéria, e é a minha ignorância que não alcança essas altas esferas do conhecimento.

Ludovico Silva, um gênio venezuelano nosso contemporâneo que você teria adorado conhecer (ele fez a última viagem pouco antes de você), e que só agora a Revolução Bolivariana da Venezuela vem revelando, diz o seguinte a respeito desse processo:

"Todos aqueles que, por não dar as costas à História e têm procurado dotar suas teorias de um sentido transformador e não indiferente à ação sobre o mundo empírico, ou bem tiveram de se retirar da filosofia acadêmica, ou bem são considerados por esta como "não filosóficos", o que, em outras palavras quer dizer simplesmente "bastardos". Um bastardo dessa natureza foi Karl Marx, cujo mundo teórico sempre foi intragável para os estômagos acadêmicos, ainda que, em larga escala, esses estômagos têm demonstrado uma resistência capaz de digerir, academizar e dissecar a obra de Marx, a ponto de torná-la irreconhecível. Tão irreconhecível que o Marx que circula como mercadoria filosófica nas universidades passou a ser um mero "interpretador" o qual, por sua vez, deve ser também interpretado, pelo que se foi perdendo todo e qualquer vestígio do sentido último de suas teorias, que era o de transformar e mudar o mundo."

Esta foi uma das razões que levaram boa parte da nossa geração a cair fora das universidades e da hipocrisia academicista. Se nesse trecho de Ludovico substituirmos o nome de Marx pelo seu, Rogério, teremos o que estão buscando fazer com a sua obra a partir do Edifício Rogério, "edifício" que é só de fachada, como o do bolo de aniversário da foto de capa. Seus exegetas se comportam como os de Marx, que Ludovico denuncia. Fazem uma leitura "dinâmica" da sua obra, e engessam-na em “análises” do tipo formal-com-formol. Escrevem como se dissessem aos alunos: - o autor tem lá sua importância, mas vocês não precisam se dar ao trabalho de ler os calhamaços que escreveu, pois o que interessa sobre ele e sua obra está na página tal da minha apostila.

Notável é o grilo desses caras com palavras que frequentam com assiduidade os seus/nossos textos, tais como gênio, revolucão, irreverência, liberdade, resistência, inteligência, imperialismo, colonialismo, e não duvido que se contarmos todas vamos a mais de um terço do léxico. Discurso revolucionário eles chamam de “dicção inflamada”; irreverência é “sintaxe inusual”; liberdade de linguagem é “colagem de signos aparentemente díspares”; e por aí vai... É um preconceito que resulta numa limitação fatal à livre expressão de qualquer idéia. O estilo é coisa proibida; ao ler orelhas e prefácios, a impressão é a de que dizem a mesma coisa pelo mesmo autor, com ligeiras alterações de forma, e, para o seu caso, com permissivas “licenças poéticas” e arroubos “criativos” que só chegam ao lugar comum e à banalidade (na verdade, tentam mostrar que são mais criativos que você).

Em essência, o seu exegeta é um só, como sugere Ludovico: o estômago acadêmico. Uma espécie de norma ISO de redação exegética que só pode dar em mediocridade.

Assim, a presença de Noel Rosa na sua obra não se dá porque você o considera "o mais revolucionário dos cantadores da tristeza da raça negra", como escreve em uma de suas colunas da Folha, que é publicada no próprio livro 2, na página 53, mas é "por (Noel) introduzir uma nova poesia urbana na música popular brasileira, com amor, humor e dor", como pontifica vazio e piegas o seu exegeta, tentando ser poético.

Também João Gilberto é frequente em sua obra não porque você o vê como "único solitário insubmisso cantor brasileiro a não alienar ao povo desse país-continente a possibilidade daquela inteligência e concentração necessárias a uma maioridade cultural" (pag. 53, livro 2), pois o professor nos ensina que é "por (JG) criar uma batida inaudita e uma bossa nova de cantar, na música popular brasileira internacional" (???).

São inúmeras as passagens em que você expressou a sua admiração pelas referências fundamentais da sua obra: Welles, Oswald, Godard, Noel, etc. Nenhuma é citada. Aliás, sempre quando o citam, não o fazem literalmente. Eles “explicam” você. Ao invés de abrir aspas e lançar suas linhas geniais sobre o assunto, como várias vezes fez Gilberto no prefácio que mencionei, ao mesmo tempo apoiando suas idéias e estimulando o leitor a embarcar na sua obra, tentam uma “simplificação didática”, numa postura distante e blasé, como a de quem diz: - é o autor que pensa assim, eu não tenho nada com isso, sou apenas um observador.

Um outro exemplo é o de Hendrix. Você, em nosso Alô Alô (pag. 95): "Dzin, jin, gênio, nuntius (em latim, enviado) ou como quiser nomear aquilo que é inominável (...) aquele ser movido por uma graça que faz a história vibrar e ameaça o transcorrer acadêmico das coisas". Como esse texto, apesar de ter sido publicado na Folha, não está na “caixinha”, não sei se os caras o leram. Mesmo assim, a forte presença de Hendrix na sua obra precisava ser “explicada” e ajustada ao conformismo ideológico acadêmico; o que resultou na seguinte banalidade professoral: “por (JH) transformar a microfonia com música, numa orquestração radical de sons e cores na guitarra elétrica".

E, "durma-se com um barulho desses"! Os “corretivos” acadêmicos-mumificadores de seus originais conceitos não acadêmicos dos três exemplos acima estão na página 13 do livro 2, num só parágrafo! O bastante para que um jovem leitor inteligente abandone o livro, já bocejando e pensando que o tal "Edifício Rogério" não está com nada. Nossas edições "bastardas" sequer são mencionadas, nem como tais; e até a italiana - de "primeiro mundo", como eles dizem - é omitida; elas simplesmente não existem.

A indiferença com que "patrocinadores", coordenadores e exegetas o tratam e à sua obra é revoltante. Você e sua obra são para eles como cadáveres de indigentes em aulas de anatomia. O que interessa não são os textos nem você (cadáveres), mas as pontificações dos doutores ao dissecá-los. Assim como as fotos estão lá para ilustrarem coisa nenhuma, seus textos estão lá para não serem lidos. Fotos e textos são usados, disfarçadamente, como "documentos" da dissecação, mas nem a isto alcançam. Acabam como “anexos” meramente formais, sem qualquer vínculo ou compromisso com uma idéia ou projeto editorial consistente. Não há sequer a informação sobre o universo pesquisado e dos critérios de escolha e seleção de textos, fotos e iconografias, se é que houve algum. Para mim, o único critério visível é o “por sorteio”. É que o outro olho (interesse principal) estava fixado nos cachês, nos badalos da imprensa e nos convescotes burgueses de lançamento, já que o sucesso destes, mais uma vez, quem garante é você (e nós, pagando a conta).

Esse “tratamento” editorial não atinge macacos velhos como eu e os da nossa geração, mas pode causar sérias perdas de jovens leitores que, na desorientação desinformativa em que vivemos, necessitam alguma informação prévia sobre a leitura que devem encarar para sair da cegueira em que o Sistema (leia-se Banco Itaú and Brothers) pretende submetê-los a fim de neutralizar neles todo e qualquer potencial de rebeldia.

É um método de ocultação muito usado atualmente: cobrir o "cadáver" de exegeses elogiosas misturadas a badalos socialaites e dotá-lo de um caixão (ou "caixinha") feito sob medida para impedir que dele possa escapar qualquer luz de imortalidade. Pois, se não é isto, a ocultação do gênio revolucionário em camuflagem de rigor acadêmico com chancela oficializante de uma UF da vida não teria Banco Itaú patrocinando obras de Rogério Sganzerla. Os pilantras sabem onde põem o bico.

Podemos compreender que Helena e as “meninas” precisem da grana, mas, qualquer tenha sido ela, garanto que melhor negócio seria dar continuidade ao nosso projeto pela via alternativa, independente, pela nossa via – a sua via, Rogério! Temos condições de fazer um trabalho de fato importante e consequente. Eu disse à Helena que dinheiro seria fator secundário. Mas essa obscura publicação - ela, sim, bastarda, feita para fracassar e para que o fracasso seja atribuído a você - já ameaça queimar o seu nome e o ineditismo de sua obra literária, que muito favoreceriam o nosso projeto.

Não podemos permitir que obras como as suas sejam diluidas e ocultadas dessa forma; elas são preciosidades que muito contribuem para nos tirar da big bosta brazil em que estamos metidos. E digo mais: é pelas luzes emitidas por obras como as suas - e as dos que o antecederam e o sucederem em genialidade e consciência revolucionárias - que a humanidade haverá de encontrar o caminho para superar sua própria estupidez.

Contudo, ainda penso que o nosso projeto não foi de todo comprometido, companheiro, mas foi seriamente abalado. É difícil, Rogério! Mesmo assim,

Venceremos!

Mario Drumond
BH 24/3/2011

PS – Peço outras desculpas pela crueza e extensão da carta, mas julguei necessário desopilar-nos. Considero o livro uma das maiores conquistas da Humanidade. O melhor da minha vida devo aos livros, com os quais sempre me vi profundamente envolvido, como leitor, editor e autor. O que vou fazer agora é levar meu exemplar ao encardenador e pedir-lhe que liberte suas páginas de todas as que não são suas e as reencaderne juntas num só volume sob o título Rogério Sganzerla – Jornalismo – Textos sorteados, para que eu possa desfrutá-los com o prazer e a atenção que merecem.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Gazeta em forma de e-meio 116

A vez e a voz do morro na Cidade Jardim

Jovens de todas as idades unidos no milagre do samba da minha terra, que já não tem palmeiras nem sabiás (e os sábios que se cuidem). Mas, na pobreza digna do nosso barracão, meus amigos, mora a alegria fazendo jubileu de ouro: 50 anos de vida e luta. E vocês estão vendo só uma pequeníssima parte. Cada um desses que aí estão é um legítimo representante de legiões de sambistas, passistas, cantores, atores e artistas do povo. Que vão encher a avenida no próximo carnaval sob a bandeira do Grêmio Recreativo e Escola de Samba Cidade Jardim, cantando o samba enredo 50 anos de cores, brilhos e fantasias.

Que diz:

É na festa
È na festa, é na comemoração
É Cidade Jardim 18 vezes campeã (bis)

Minha nobreza, meu Belo Horizonte
É Cidade Jardim, parabéns para você
50 anos no portal de honra e glória

Sua coroa você fez por merecer
Só quem te viu
Quem te vê
Sabe da sua história

São cachoeiras desaguando na avenida
Muita beleza, confete e serpentina
Olha o requebrado da mulata ho ho ho
Olha o samba no pé
Muito obrigado, Maioral
Aonde você estiver

Nosso Rei Negro viajou
Numa carruagem guiada por
Cavalos marinhos, que foram ao fundo do oceano
Encontrou Atlântida, Cidade Sagrada
com toda magia; uma nova terra que surgia
Ao longe ouvia ecoar / ecoar
O canto da baiana Helena
Como uma estrela fazia brilhar
Quase roubava a cena
Rodando em saudação à Bahia

Que me levou ao seu reinado
Cidade Jardim paraíso encantado (bis)

(autoria de Domingos do Cavaco e Comissão do Carnaval)


E desfilando assim (roteiro do desfile: Graveto/Mario Drumond - carnavalesco: Graveto):


1. Comissão de frente (coreografia e Helena: Izabel Costa)

com 14 guerreiros e Helena

no Portal da Purificação (alegoria com o título-tema Cidade Jardim 50 anos)


2. Ala do Céu e do Mar

com 30 passistas em azul e branco


3. Carro de Atlântida com o Rei Negro (Alexandre Costa) e uma ninfa


4. Ala do Jubileu de Ouro (ou Ala da Coroa)

com 30 passistas em amarelo ouro


5. Carro da Natureza (cachoeiras e matas) com dois destaques


6. Ala da Fertilidade

com 30 passistas em verde e branco


7. Ala das Mulatas (Raiz do Samba)

com 30 passistas mulatas em vermelho


8. Ala das Baianas (30 baianas)


9. Bateria do G.R.E.S. Cidade Jardim (70 ritmistas)

Rainha da Bateria: Nega
Rainha da Escola: Kelly


10. 1º par de Mestre Sala e Porta Bandeira

Mestre Sala: Graveto
Porta Bandeira: Tiene


11. Carro dos 50 anos (8 a 10 destaques, um deles fantasiado de JK)


12. Ala Cidade Jardim

30 passistas de ouro


13. 2º par de Mestre Sala e Porta Bandeira (em fase de seleção)


14. Ala dos Antigos Carnavais

30 passistas em cores diversas
e mais quantos amigos vierem com fantasias famosas dos velhos carnavais


15. Ala da Diretoria (fechamento do desfile)

com atuais e antigos diretores



Memória e sinopse do desfile

Graveto/Mario Drumond

Este enredo nos leva a uma viagem de comemoração do nosso Jubileu de Ouro. São os 50 anos da Escola de Samba Cidade Jardim, e vamos a um encontro imaginário com os nossos eternos irmãos do samba, os que hoje habitam o reino dos céus.

Nossa escola, criada em 1961 no entorno da vila Santa Maria, região centro-sul de Belo Horizonte, alcançou grande importância na cidade, no estado e no país.

Em 1957, surgia o fenômeno do samba, Jairo Pereira da Costa, com o seu jeitinho moleque, sambista, e um sorriso alegre e conquistador. Ele fora o primeiro a conquistar o título de Cidadão do Samba, criado por JK, e nele brotava a raça, o sentimento e o orgulho de ser sambista.

Em 13 de abril de 1961, Jairo, seguido de outros componentes da Escola de Samba União Serrana, funda o Grêmio Recreativo e Escola de Samba Cidade Jardim. Dois anos depois, conquistamos o primeiro dos nossos dezoito títulos no carnaval de rua de BH, onze deles, consecutivos. Em 2002, toda Belo Horizonte ficou abalada com a noticia de que o então presidente da Escola de Samba Cidade Jardim, Jairo Pereira da Costa, partira para o reino dos céus .

No inicio de 2008, seu filho, Alexandre Costa (o nosso valente e querido Lee), assumiu a presidência, substituindo sua irmã Ângela da Costa em um momento de intenso conflito com a Prefeitura Municipal que despejara a escola de seu barracão, de maneira autoritária e prepotente. Lee dobrou as mangas da camisa e fez valer o sangue de sambista e de guerreiro que corre em suas veias, em honra ao seu pai. Com ele lutamos bravamente, dias e noites, agitando o centro da cidade com protestos, bateria, faixas e cartazes para despertar a indignação popular, e esta se vez valer: a nossa quadra nos foi devolvida.

Hoje, como uma das mais tradicionais escolas de samba de Minas Gerais, comemoramos 50 anos de lutas, glórias carnavalescas e obras sociais. Rasgando os céus sob o brilho da lua e das estrelas, bailando no horizonte das gerais, fazemos a festa para o nosso Rei Negro. É festa também para JK, nosso padrinho, é festa para os grandes carnavais que, no passado, protagonizamos nas passarelas do samba.

Com tanta beleza e luxo, é como se os encontrássemos nas maravilhas de Atlântida, o continente perdido, com a força e a magia de suas casas feitas em ouro e pedras preciosas, cachoeiras jorrando aguas cristalinas e os seres que habitam as profundezas do mar. É o reino encantado do sortilégio, de nobreza sobre nobrezas, onde nosso Rei Negro, coroado pela eternidade, chegou numa carruagem puxada por cavalos marinhos, passando pelo Portal da Purificação. E, cumprindo todos os requisitos que nele são exigidos, foi habitar as profundezas celestiais do oceano, onde a imaginação não encontrará jamais qualquer limite.

Nosso enredo é um chamado à grande festa popular que é o carnaval brasileiro, a relembrar os velhos amigos; um chamado à verdade e à magia de brincar, dançar e comer do bolo no baile de máscaras. Um chamado a participar!

A Cidade Jardim, com a sua comunidade, vai cantar e encantar em 2011, como sempre movida pelo amor e pela esperança de brilhar. São 50 anos a comemorar!