segunda-feira, 13 de abril de 2009

Gazeta em forma de e-meio 83

O Dia Mundial do Livro

Dia 23 de abril comemora-se, mundialmente, o Dia do Livro. A data, proclamada pela UNESCO, em 1995, nunca provocou muito entusiamo em nosso grande país, pequeno de leitura e a cada dia mais se distanciando das boas letras.

Acionada por Rodrigo Leste, que compôs um belo manifesto dedicado ao Dia, o qual será o texto e o tema do nosso Suplemento Literário deste mês, a Gazeta quer dar sua contribuição, o seu grão de areia, para que comecemos a mudar este quadro tão triste quanto vergonhoso para nós. O livro vem sendo, há 5.000 anos, o melhor veículo do conhecimento humano e humanista e, enquanto meio de difusão do pensamento, de acesso à informação e de perenização da cultura dos povos, permanece imbatível.

Ainda que não podemos negar a força deste novo veículo eletrônico de que dispomos há menos de duas décadas – e a Gazeta tem enfatizado isso –, sempre estaremos sujeitos a uma série de fatores externos ao nosso domínio, desde os poderes políticos, os financeiros, até os tecnológicos, para nos valermos dele.

O livro, não! Uma vez de posse dele, mesmo sem dinheiro, sem eletricidade, sem qualquer outro recurso externo e sem que ninguém possa nos impedir, seja à luz de velas ou do dia, é só abri-lo, e ele nos serve a íntegra de seu conteúdo. Além disso, é uma fonte permanente de prazer e de conforto existencial.

Sobre o livro, a este gazeteiro, ainda quando muito jovem, impressionou e impregnou em seu espírito uma leitura de Maquiavel cujos ensinamentos e prática desde então adota, pois o livro, e só ele, nos permite a plena vivência de momentos como os descritos por aquele grande mestre do passado no seguinte trecho de uma das suas famosas “Cartas” (Carta a Francesco Vettori – trad. Lívio Xavier – Ed. de Ouro, s/d [década de 1960]):

“Chegando a noite, de volta à casa, entro na minha biblioteca: e na porta dispo as minhas roupas quotidianas, sujas de barro e de lama, e visto roupas de corte ou de cerimônia, e, vestido decentemente, penetro na antiga convivência dos grandes homens do passado; por eles acolhido com bondade, nutro-me daquele alimento que é o único que me é apropriado e para o qual nasci. Não me envergonho de falar com eles, e lhes pergunto a razão de suas ações, e eles humanamente me respondem; e não sinto sinto durante quatro horas aborrecimento algum, esqueço todos os desgostos, não temo a pobreza, não me perturba a morte: transfundo-me neles por completo.”

Esta é a expressão mais certeira que este gazeteiro conhece sobre os sentimentos de quem lê, isto é, do leitor de livros. Já o texto de Rodrigo Leste manifesta, em parábola tão singular quanto singela, de protesto, a expressão dos sentimentos do que é lido nos dias de agora, “de complicada modernagem”. Ou seja, os protestos que imaginou manifestaria, se pudesse fazê-lo, o livro, este objeto-personagem fundamental da civilização que vive hoje um injusto esquecimento na indiferença de seus potenciais usuários, e que é igualmente nefasta para ambos, para o leitor e para o livro.

No dia 23 de abril, a Gazeta distribuirá por e-mail o texto de Rodrigo Leste. Mas, desde agora, ele já se encontra disponível no nosso Suplemento Literário, onde permanecerá como matéria de frontispício até o mês de maio. Para quem quiser ir até lá, agora mesmo, boa leitura: http://gazetasuplemento.blogspot.com/.


Um presidente da República em greve de fome e a bigodeira das oligarquias latino-americanas

O índio Evo Morales continua a dar lições ao mundo “civilizado”. Já está no quarto dia de uma greve de fome em protesto contras as oligarquias de seu país, que insistem em sabotar o regime democrático que agora ele preside e quer que exista de fato na sua nova Bolívia. Demonstra assim que a presidência de um país sem soberania não significa estar no poder, pelo menos enquanto a “democracia” desses países for de algum modo submissa ao sistema capitalista imperial.

Sua greve de fome, talvez a primeira de um presidente da República em toda a história, denuncia, acima de tudo, a farsa pseudo democrática que vimos vivendo em nossas repúblicas latino-americanas. A melhor palavra que temos em nosso léxico para definir o verdadeiro sistema político em que vivemos aqui é “coronelismo”, cujo significado implica o poder real mas ilegítimo e submisso a interesses forâneos. É contra tal poder a greve de fome e a luta de Evo Morales, contra os “bigodudos” daqui, serviçais dos “narigudos” de lá. E os vencerá, com certeza, como tem vencido, uma a uma, as batalhas anteriores.

Assim resenhou Fidel Castro em suas Reflexões de hoje, sob o título "A vitória inevitável de Evo": “O adversário não pode resistir aos seus disparos pacifistas. É possível que na madrugada desta segunda-feira se anuncie o acordo sem que se necessite de decreto presidencial, em virtude de uma lei do Congresso como desejava Evo. Cada hora que passa sem esse acordo multiplica a força e o apoio nacional e internacional ao presidente indígena da Bolívia. Os parlamentares de oposição já retornam correndo à negociação; é uma boa notícia.”

São eles, esses “bigodudos”, o que há de mais retrógrado e retardado em nossa história. São a própria caricatura do atraso. Infelizmente, o Brasil parece fadado a ficar sempre no último lugar desse atraso perverso. Aqui os “bigodudos” ainda mandam como sempre mandaram. Por isso, fomos os últimos a abolir das nossas leis a vergonhosa escravidão. Na Bolívia, em pouco tempo, Morales, contra “eles”, aboliu o analfabetismo. Cuba e Venezuela já o tinham feito, e os candidatos mais próximos a receberem o certificado da UNESCO de “países livres do analfabetismo”, que a Bolívia acaba de receber, são Nicarágua, Equador e, pasmem, Paraguai. Pelo andar da carruagem, ficaremos novamente em último lugar na abolição desse tipo de escravatura, que é o analfabetismo.

Nosso presidente precisa urgentemente aderir à greve de fome de Evo Morales.