domingo, 9 de agosto de 2009

Gazeta em forma de e-meio 94

“Sete punhais no coração da América”

Esse poderio militar não é uma necessidade do mundo; é uma necessidade do sistema econômico que o Império impõe ao mundo” (Fidel Castro, Reflexões: Sete punhais no coração da América, 5/8/2009)

Jim Jones não é o nome de um mocinho-de-faroeste nem de um JJ texano biguebóz do gado ou do petróleo, tipo Assim caminha a Humanidade. Seu nome surgiu há poucos dias no cenário midiático imperial não como personagem de ficção, mas como “general, assessor de Segurança Nacional da Casa Branca”, justamente aqui, em Brasília, para dizer ao mundo que “os Estados Unidos não recuarão da negociação com o governo da Colômbia para a utilização de sete bases militares do país sul-americano” (Estadão, 6/8/2009). Não foi seu Obama nem dona Hillary, foi ele, este recém revelado ao respeitável público como porta-voz do Império, pronunciando-se (não declaradamente) em resposta a Chávez, que rodou a baiana e pôs a boca no mundo logo que soube da tramóia, e a Fidel, que publicou o texto aqui citado desde o título desta Gazeta.

Falou, ’tá falado; é assim que o Império se pronuncia perante suas colonias. Uribe, presidente da Colombia, o tal “país sul-americano” mencionado por Jim Jones, que corresse atrás de explicar às colonias vizinhas o que foi que assinou em Washington, às escondidas e às sombras do golpe de Estado em Honduras, para que o território de seu depauperado país fosse entregue de bandeja à instalação de mais sete poderosas bases militares imperiais em locais estratégicos, já para o ano que vem, a fim de cercar a Venezuela e “proteger” a Amazonia, incluindo a “nossa”, a “brasileira” (a dos velhos mapas dos meus tempos de estudante). E Uribe foi, batendo de porta em porta, com a sua cara de ratazana voadora, para dizer aos presidentes dos vários países que visitou na América do Sul, including Brazil: “Sou a pomba da paz”!

Ao mesmo tempo, Chávez dava uma longa entrevista coletiva à “imprensa internacional”. Perguntado sobre os EUA e Obama, ele respondeu: “Obama é apenas o presidente dos EUA, e o nosso problema não é com os EUA, nem com o povo norte-americano, nem com seus governantes; nosso problema é com o Império capitalista-sionista que vampiriza os povos do mundo inteiro, a começar dos próprios EUA.”

Em vista disso, a “imprensa internacional” (leia-se imprensa imperial) publicou, em editorial do diário El País (Espanha), que “Chávez tem mania de criar inimigos imaginários e só fala desse tal Império sobre o qual nunca diz ao certo de que se trata.”

Quanto a Fidel, a BBC Mundo assim se manifestou sobre o seu texto, em manchete de página de rosto de sua edição on-line: “Fidel Castro apoia o armamentismo na Venezuela”. Esta foi a interpretação “nada capciosa”, além de elevada a título e a manchete, que o sisudo veículo inglês deu à seguinte passagem do texto:

“(...) obrigam inelutavelmente a Venezuela a investir em armas recursos que poderiam ser empregados na economia, nos programas sociais e na cooperação com países pobres e menos desenvolvidos”.

Quer dizer, seria a Venezuela, estimulada por Fidel, a responsável pelo armamentismo e as conflagrações na Colômbia, que se constitui numa ameaça real à América. As mais de 800 bases militares dos EUA-Inglaterra-Israel, espalhadas por todo o mundo, devem ser apenas ajudas humanitárias desses três beneméritos países, pois são ameaças só na imaginação de Hugo Chávez.

As invasões e desestabilizações perpetradas em todas as partes do mundo, a partir de tais bases militares, com níveis de matanças e de desastres humanitários e ambientais que são superados a cada passo histórico, desde as bombas de Hiroshima e Nagazaki (o Império acaba de comemorar 64 anos do genocídio, como ato inaugural da nova e atual fase da sua ação belicista) não podem por em dúvida as “intenções pacíficas” das sete bases militares que estão sendo construídas na Colômbia (Chávez mostrou fotos de satélite de todas elas, em obras), as quais Uribe, afilhado e predileto do mundialmente célebre narcotraficante Pablo Escobar, vem solertemente “explicar” a seus vizinhos.

Ah, trata-se do combate ao “terrorismo” e ao “narcotráfico”... Ora, todos sabemos que, desde que começou esse “combate”, há cerca de quatro décadas, a Colômbia tornou-se o maior produtor mundial de cocaína e de terroristas (a imprensa os chama de “paramilitares”), e os EUA, o maior consumidor de drogas ilícitas e principal usuário e patrocinador dos “serviços” desses “paramilitares”.

As diferenças deste gazeteiro com a imprensa e o pensamento dominante nas elites do nosso país, se é que ele ainda permanece nosso, começam pela postura autista de ambos em relação à barbárie imperial de que somos vítimas. Para a esmagadora maioria da inteligentzia brasileira – e vamos ser flexíveis com tal universo, incluindo nele políticos, tecnocratas, jornalistas, intelectuais, empresários, militantes, artistas, estudantes e até atletas, todos eles, os famosos, os poderosos, os influentes, ou não –, o Império capitalista-sionista, a que aludiu Chávez, simplesmente não existe!

Uma postura que implica, necessariamente, em ignorar a história toda desde o “descobrimento da América”, ou, pelo menos, desde que foram expulsos os espanhóis deste continente e decretado o fim do império português em nossa pátria. Pois, já no início do século XIX, em plena guerra contra o império espanhol, Simon Bolívar profetizava: “Os Estados Unidos estão fadados a encher a América de sangue e miséria, em nome da Liberdade.”

E Fidel Castro, talvez o político mais bem informado e mais experiente que ainda vive neste planeta, há mais de cinquenta anos protagonizando papéis centrais ou de destaque na política internacional e de combate ao Império, encerra assim a sua sábia análise:

“A pátria de Bolívar é hoje o país que mais lhe preocupa (o Império), por seu papel histórico na luta pela independência dos povos da América. Os cubanos que prestam ali serviços de especialistas em saúde, educadores, professores de educação física e esporte, informática, técnicos agrícolas e outras áreas, devem dar tudo no cumprimento de seus deveres internacionalistas, para mostrar que as pessoas podem resistir e ser portadoras dos princípios mais sagrados da sociedade humana. Caso contrário, o Império irá destruir a civilização e a própria espécie.”