segunda-feira, 2 de março de 2009

Gazeta em forma de e-meio 77

Em vista das muitas solicitações de leitores desejando conhecer o nome do pensador focado neste artigo, adiantamos a remessa desta Gazeta, com a sua terceira e última parte, e que satisfaz a justa curiosidade despertada.

O filósofo do “vale de lágrimas” III

Álvaro Vieira Pinto é o nome do nosso genial pensador recém revelado pelo exitoso trabalho editorial da Contraponto, de César Benjamin, que já trouxe à luz cerca de 1.800 páginas, em três volumes de livros, da obra inédita deixada pelo autor em manuscritos de próprio punho ou datilografados para a posteridade. Ao que se sabe, nunca o autor buscou um editor para publicá-los ou uma instituição pública que conservasse seus originais. Preferiu deixá-los sob a guarda de parentes e conhecidos talvez porque os intuía capazes de conservá-los, se não pelo interesse intelectual, pelo carinho respeitoso à memória do autor. Intuía também, com certeza, a inutilidade de levar a editores seus contemporâneos os volumosos e explosivos originais que produziu, ainda não se sabe a que quantidade, bem como a de deixar à incompetência e à irresponsabilidade das instituições públicas que sustentamos para tais fins a guarda de tão vulneráveis quanto facilmente destrutíveis folhas de papel em que se cristalizaram seus pensamentos.

Filósofo e matemático, foi catedrático da Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil (hoje UFRJ) e ganhou projeção ao participar do grupo fundador do célebre Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), cujo departamento de Filosofia dirigiu. Segundo César Benjamin, em texto de orelha dessa última publicação, “incursionou pela sociologia, a pedagogia, a história, a linguística e a demografia”. Em vida, publicou, ao que conhecemos, apenas um opúsculo, quase um panfleto sobre a política de ensino superior e a universidade no Brasil, além de artigos em jornais. No advento do golpe de Estado de 1964, foi relegado ao ostracismo e nele permaneceu, compondo solitária e quase secretamente sua obra de pensamento, até falecer, em 1987. Ainda não se sabe se nos três volumes recém publicados e nos poucos textos que o autor publicou em vida estaria contida toda a sua obra, mas acredita-se que novos tesouros estão para ser descobertos e revelados.

Não é a primeira vez que a história registra fenômenos assim em nossa região do “vale de lágrimas” e com certeza não será a última. Contudo, por mais devastadores sejam os efeitos dessa conspiração contra nossas populações, economias e culturas, verifica-se entre “nós” uma persistente e sempre mais lúcida resistência para enfrentá-la, ao mesmo tempo em que se registra um nítido retorno não previsto, não dimensionado e não controlável dessa mesma conspiração atingindo em cheio os “pés de barro” do próprio Império que a patrocina: um verdadeiro canhonaço saindo pela culatra!

Agora que, finalmente, os róseos dedos da aurora começam a surgir nos horizontes sombrios do “vale de lágrimas” – trazendo o novo dia que haverá de encerrar “a longa noite ártica da inteligência” -, é previsível que apareçam inúmeras obras importantes que, tal como as de Vieira Pinto, foram produzidas em ignotos esconderijos do trabalho intelectual por ignorados pensadores da nossa realidade.

Que elas também nos ofereçam substâncias valiosas de crítica e análise para o alicerce das novas bases sociais, políticas e culturais revolucionárias de que necessitaremos para o desfrute do novo dia que muito em breve amanhecerá para os nossos povos, uma vez que a sua aurora já se faz notar em diversas latitudes e longitudes da nossa Pátria Grande.

Nós mesmos temos notícias de muitas delas; o leitor, com certeza, também.

E este gazeteiro retorna à leitura do volume.


A nova Gazeta,
com as reformulações feitas durante a breve pausa para meditação, aos poucos irá se definindo. Anunciamos, desde já, o lançamento do nosso Suplemento Literário, com uma inovação na linguagem web:

AGUARDEM, a partir de terça-feira, 10 de março:



Novela em forma de e-meio
(Suplemento Literário da Gazeta em forma de e-meio)

por Mario Drumond

33 capítulos publicados ao ritmo de um capítulo por dia, todos os dias.
Da série Escritos anti-imperialistas
Escrita entre 11 de setembro e 30 de dezembro de 2008.
Belo Horizonte – Brasil

Revisão: Frederico de Oliveira